Ele era amoroso de verdade. Antes de encarnar como peixinho,
prometeu a Jesus que disseminaria o amor com pequenas e singelas gentilezas aos
demais peixes. E, numa bela manhã ensolarada, ele renasceu.
Com o passar do tempo, ele percebeu que os demais peixes
não lhe eram acessíveis ao amor demonstrado. À noite, quando orava, dizia:
-Jesus, o senhor não me avisou que seria tão difícil tocar os
corações.
E assim, para cada gentileza que ele tentava praticar, percebia
que era considerado um peixinho inconveniente. Devido aos preconceitos dos
demais peixes, sua presença não era aceita.
Certa noite, em suas reflexões, ele pensou: o mar é tão
lindo, tão rico, mas eu não tenho lindas pérolas para oferecer, como as ostras
e nem tenho o colorido dos peixes exóticos. Deve ser por isso que sou
considerado um peixinho feio e inconveniente. Quando eu for parar numa rede de pescador e meu
fim se aproximar, chegarei até Jesus sem ter cumprido a promessa que lhe fiz.
E realmente ele foi pego certa madrugada numa rede, morrendo
asfixiado quando os pescadores vieram e recolheram a rede. A alma do peixinho,
criada para ter vida eterna, nadou com muita liberdade naquele mar espiritual
tão abençoado. Nenhuma rede o capturaria novamente.
O peixinho passou a esperar por Jesus… tinha esperança de
encontrá-Lo... mas, não foi Jesus quem veio, foi a rainha do mar, a linda Mãe
Iemanjá, enviada pelo próprio Jesus. Encantado com essa presença tão
deslumbrante, falou-lhe:
-Mãe, ninguém quis minha aproximação, não consegui cumprir meus objetivos.
Ao que ela respondeu:
-Filho, você vai ter surpresas incríveis a partir de agora. Está
sob minha responsabilidade. Levar-te-ei comigo por onde eu for.
E assim aconteceu... O peixinho amoroso teve muitas surpresas.
Iemanjá o levou para ver todos aqueles peixes preconceituosos e cheios de si.
Eles estavam envelhecendo, sentindo-se tristes e desgraçados. Cada um deles
dizia:
-Deus, tenha piedade de mim… estou tão só e amargurado. Agora,
na velhice, sinto-me abandonado e sem amor.
Nessas ocasiões, Iemanjá dizia ao peixinho amoroso:
-Vá meu filho, sopre amor na fronte desse peixe triste.
O peixinho, que não alimentava raiva, nem desejo de vingança,
aproximava-se do peixe triste e soprava amor em sua fronte. O peixe triste
sentia-se renovado e feliz. Passavam a sentir gratidão a Deus.
Passados alguns anos, após aqueles peixes terem desencarnado,
Iemanjá reuniu todos eles num recanto do oceano e lhes disse:
-Agora que vocês estão percebendo a velhice solitária que
tiveram, entendam que não souberam reconhecer as dádivas de amor que um
peixinho amoroso desejou tanto lhes dar.
A essa altura, o peixinho já tinha dado tanto amor, que sua
forma era uma linda luz lilás que parecia brincar em meio às ondas do mar.
Envolto nessa luz, o peixinho, na presença da Mãe Iemanjá, trouxe felicidade
aos velhos peixes, na esperança de que um dia eles também almejassem ser peixes
de luz plasmada pelo poderoso sentimento que chamamos de Amor.
Pai Zeca - Médium: Maria Nilceia
